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8 razões para o seu improviso na guitarra não soar a música

Você praticou inúmeras horas, você sabe os formatos das escalas, você consegue tocar mais rápido que todos os seus amigos. Contudo, todos os solos que improvisa (ou escreve) soam a escalas, e não a música de facto. Porquê? Esta é uma questão que deixa a maioria dos aspirantes a guitarristas quase insanos. Como é possível algumas pessoas tocarem apenas três notas e elas soarem a música, enquanto que outras não, independentemente da quantidade de notas que toquem? Existem várias explicações possíveis para o som não estar a sair melódico. Esta lista mostra as razões mais comuns que tornam o seu improviso pouco melódico e dicas para ultrapassar esses problemas.

Alguns pontos aqui descritos são puramente técnicos, enquanto que outros são da área emocional. Um bom solo (como toda a música) é uma expressão das emoções do músico. A música é uma mistura de técnica e arte, e para se ser um bom músico você precisa de ter algo a expressar (emoção) e os meios para se expressar (técnica)

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1. Tocar demasiadas notas

A primeira razão é provavelmente a mais comum entre os guitarristas. Tocar demasiadas notas é a característica que define o guitarrista desagradável que os outros músicos, sem falar do público, têm pavor.

É importante referir que o termo tocar demasiadas notas tem um significado relativo. Algumas músicas podem pedir um solo lento, enquanto que outras pedem um solo com muitas notas e rajadas rápidas. Nem todos os guitarristas que tocam rápido são culpados de tocar demasiadas notas. Um solo shred requer muitas notas, e em algumas músicas, ter muitas notas não é considerado demasiado. É uma questão de contexto e gosto.

A solução é ridiculamente simples: toque apenas algumas notas! Treine improvisando na guitarra com uma backingtrack, utilizando apenas uma ou duas notas por compasso. Parece fácil, mas assim que começar a tentar irá notar que terá de resistir à tentação de tocar mais notas. Não desista!

1. Quando toca demasiadas notas, as notas supérfluas obscurecem a linha melódica. Na verdade muitos guitarristas tocam demasiadas notas para tentar esconder a falta de melodia nos seus solos!

2. Não é muito importante a rapidez com que consegue tocar, mas qual a diferença entre a nota mais lenta e a mais rápida que consegue tocar. Se você der muito contraste entre as passagens lentas e as passagens rápidas, as rápidas parecerão ainda mais rápidas.

3. É geralmente uma boa ideia manter os seus licks mais rápidos para o fim do solo/improviso. Se os tocar demasiado cedo não terá nada para entreter o ouvinte depois.

2. Fraseado

Agora que tem o pé no travão e não está a tocar demasiadas notas, começará a notar que as notas lentas podem não soar muito bem sozinhas. Se sentir uma grande necessidade de tocar algo rápido para esconder isto, resista. O problema não está no facto de estar a tocar lentamente: o problema é a sua falta de hábito e treino com notas longas. Sim, leu correctamente. Muitos de nós passamos muitos tempo a praticar para tocar rápido, mas quantos de nós praticam para tocar bem uma nota longa?

Se praticar com apenas uma nota no seu arsenal irá logo notar que as regras do jogo são agora diferentes. Já não se trata do que você toca, mas sim de como você toca (fraseado). Os dois problemas mais comuns que os guitarristas encontram a respeito disto são 1) os bends não estão afinados e 2) mau vibrato (muito rápido, muito desconexo, irregular). Se estiver a praticar como disse em cima, apenas com poucas mas longas notas, poderá começar a reparar neste problema. Se assim for, ótimo! Apenas conseguindo identificar os problemas estará em posição de os resolver. Então inclua no seu treino diário um tempo exclusivo para tocar técnicas como o bend e o vibrato, e observe atentamente (oiça) como estão a soar para os poder corrigir. Um bom vibrato é a imagem de marca de um bom guitarrista.

3. Não almejar as notas do acorde

Claro, mesmo que você saiba como tocar as notas, o que você toca continua a ter importância (notas aleatórias não são a melodia preferida da maioria das pessoas). Mesmo que esteja a tocar na tonalidade certa com um bom fraseado, por vezes o seu improviso falha a colar-se à progressão de acordes. Isto acontece porque em cada momento da música algumas notas são melhores que outras. Resumindo: as melhores notas são as notas que fazem parte do acorde que está a tocar no momento (chamados tons do acorde). Se a última frase não foi clara, vou já clarificar. Ao mesmo tempo, deixe-me esclarecer algo importante: regra geral você não está restrito a tocar apenas as notas do acordes. Na verdade, você pode tocar literalmente o que quiser desde que pare numa boa nota (com várias excepções mas é um bom ponto de partida).

Agora vamos clarificar o conceito: os acordes são compostos por pelo menos três notas. Por exemplo o acorde de Dó maior, é feito pelas notas Dó, Mi e Sol. Então se a música estiver a tocar o acorde de Dó maior a dado momento, eu posso terminar as minhas frases em Dó, Mi ou Sol. Se o acorde mudar, as notas que almejo também mudam. De inicio isto parece impossível de conseguir (afinal temos de 1. saber o acorde que está a tocar; 2. lembrar as notas do acorde; 3. encontrá-las no braço da guitarra; e 4. tocá-las, tudo ao mesmo tempo!). Com alguma prática, isto torna-se fácil de conseguir. Todos os bons guitarristas praticaram almejar as notas dos acordes até se tornar algo natural.

Este assunto pode ser visto no último artigo Improvisar com notas do acorde.

4. Não tocar com outros músicos

A música pode ser vista como um desporto de equipa. Enquanto que pode desfrutar de tocar sozinho, essa diversão não chega perto da sensação de tocar com outros músicos. Com isto não quer dizer que tenha de tocar apenas com outros guitarristas, mas com qualquer músico, sejam baixistas, bateristas, cantores, pianistas, qualquer músico.

Eu sei o que pode estar a pensar: Mas eu ainda não sou bom o suficiente para tocar com outros músicos. Bem, deixe-me elucidá-lo: se não tocar com outras pessoas, pode nunca tornar-se bom o suficiente! Você não pode aprender a nadar sem entrar na água.

Você notará que quando toca com outros músicos, a dinâmica é completamente diferente. Você tem de se adaptar ao que as outras pessoas estão a fazer, reagir à sua música, e dar-lhe a sua própria interpretação. Muitos bons guitarristas melhoraram as suas capacidades por tocarem em bandas, e você deve fazer o mesmo. Já agora, isto é também uma boa razão (não a única) para ter um bom professor: irá tocar regularmente com alguém melhor que você.

5. Não ouvir

Uma das razões para ser tão positivo tocar com outros músicos é que você tem de ouvir o que os outros estão a tocar. Como saber se está a prestar atenção suficiente aos outros músicos (ou backingtrack)?

1. Você apenas olha para o braço da sua guitarra e não para os outros músicos. Bons músicos olham uns para os outros constantemente para entender o que cada um está a fazer (jogar em equipa).

2. Se começa a improvisar assim que a banda/backintrack começa a tocar, então não está a prestar atenção suficiente. Um bom guitarrista deixa que passem alguns compassos antes de começar a improvisar para conseguir absorver o groove, e a troca de acordes da música.

Uma boa forma de aprender como ouvir é juntar-se a um amigo ou outro guitarrista, e cada um improvisa a cada quatro compassos enquanto o outro toca a o ritmo, e vão trocando a cada quatro compassos.

6. Não praticar com backingtracks

Improvisar guitarraMesmo que quisesse, não pode tocar com outros músicos a toda a hora. Todos os bons atletas treinam com a sua equipa mas também sozinhos, e nós guitarristas devemos fazer o mesmo. As backingtracks oferecem uma simulação de interactividade com uma banda que pode ajudá-lo a treinar uma quantidade de diferentes coisas. Pode utilizá-las as vezes que quiser: nunca se cansarão de repetir a mesma coisas vezes sem conta. Por outro lado, as backingtracks são menos inspiradoras e menos divertidas que uma banda real. Por essa razão as backingtracks não são substitutas de outros músicos, contudo podem ser úteis.

Praticar guitarra com backingtracks deve fazer parte da sua rotina diária, mas não deve apenas improvisar cegamente em cima da backingtrack. Deve ter em mente a técnica ou conceito que quer implementar no que irá tocar, como experimentar tocar apenas poucas notas com um bom vibrato, ou tentar implementar um novo lick que aprendeu. As backingtracks são ótimas para praticar o improviso em cima de acordes, como falámos anteriormente. O problema é que você tem de saber a progressão de acordes da backingtrack. Então aproveite para praticar também o seu ouvido, antes de começar a improvisar, descubra quais os acordes da backingtrack.

7. Não tocar para um público

Por estranho que possa parecer, este é um dos principais fatores para tornar os seus improvisos mais musicais. Se estiver a tocar apenas para si, você não tem ninguém para se comunicar, então a música não soa genuína. Se estiver a tocar para impressionar outros músicos, como muitas vezes acontece, a sua música irá parecer artificial. Mas se estiver a tocar para um público, então mais que nunca você estará a tocar para comunicar algo, para estabelecer uma conexão. Você pode mudar o seu improviso observando a reacção do público, então é uma comunicação de dois sentidos.

Alguns guitarristas têm um improviso algo chato quando estão sozinhos, mas quando estão em frente de um público criam bons solos. Isto acontece porque se estão a focar na comunicação com as outras pessoas em vezes da atenção individual da sua habilidade técnica.

Antes de pensar que nunca estará apto para pisar em cima de um palco, deixe-me especificar que um público não significa necessariamente 10000 pessoas. Dois ou três amigos são um público suficiente para começar: ofereça-se e eles ficarão felizes de o ouvir. De novo, não espere ser suficientemente bom ou então pode nunca o conseguir.

8. Não ter algo para expressar

Este é o ponto mais esotérico deste artigo, mas é um factor decisivo para fazer o seu improviso dar o salto de bom para excepcionalmente bom. Isto é, se pensar nisso, esta é a grande razão para estarmos a tocar guitarra ou qualquer outro instrumento. Pare um momento e pense na última música que ouviu hoje antes de ler isto (ou na música que está a ouvir agora). Essa música tem um significado ou uma emoção adjacente? Claro que tem. Qual o significado da música? No final de contas todos nós ouvimos música porque nos transmite emoções ou nos conta uma história.

É essencial que a sua música diga algo, ou tenha algum sentimento adjacente, no entanto poucas pessoas praticam isto. Pare por um momento, eu disse praticar emoções? Sim, disse tal blasfémia. E aqui está como o vamos fazer.

Pegue na sua guitarra, e utilizando apenas três notas, tente expressar a maior tristeza que conseguir. Quais as notas que utilizou? Como as tocou? Tem apenas três notas, é melhor escolher e tocá-las bem! Agora, faça o mesmo e tente expressar calma e serenidade. Depois tente expressar raiva. Alegria, Impaciência. Tédio. Humor. Tudo utilizando apenas três notas.

Faça uma lista das emoções que deseja expressar. Se não conseguir encontrar uma palavra para essa emoção descreva uma situação que a cause, e então tente expressá-la com apenas três notas. Note que não existe uma resposta correta. Com todas as respostas que conseguir de uma única emoção, você pode compor um solo.

Final

Alguns destes pontos podem aplicar-se à sua situação, e outros não. Você pode precisar de trabalhar no lado técnico ou pode ter de trabalhar na sua expressão. Pegue no que acha necessário e dispense os pontos restantes. Pare de tocar notas e comece a tocar música!

Ricardo Frade

https://www.facebook.com/RicardoF.Guitarra/

Professor de guitarra e criador da Academiamusical.com.pt, Ricardo Frade é um apaixonado pela música e pretende incentivar o estudo da música em Portugal e Países Lusófonos.

O seu instrumento primário é a guitarra. O instrumento secundário é o piano. É aficionado por bandas sonoras instrumentais, área onde ambiciona atuar. Trabalha com ensino musical, produção musical e deseja conseguir contribuir para a dinamização do ensino da música em Portugal.

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