7 Passos para criar boas melodias
Muitos músicos amadores ou entusiastas falham numa das partes mais importantes da música – a melodia – e concentram-se demasiado na seleção dos instrumentos, nos efeitos, etc. A melodia acaba por ser uma junção de notas aleatórias. Sem uma linha melódica forte, dificilmente uma música estará na playlist de algum ouvinte. Então como transformar uma linha melódica em algo agradável de ouvir, interessante, memorável e que alcance o coração do ouvinte? Neste artigo vamos mostrar algumas dicas que podem ajudar-te a criar boas melodias.
Criar boas melodias
1: Entender a Interação Entre o Acorde e a Melodia
Esta é sem dúvida a dica mais importante de todas e felizmente a mais fácil de compreender para qualquer músico. O objetivo principal é assegurar que durante os vários intervalos ao longo da música, a nota da melodia “repouse” numa das notas que está a ser tocada no acorde. O que quer isto dizer? Bem, se o acorde que está a ser tocado for um Dó maior, então a nota alvo deverá ser o Dó, o Mi, ou o Sol (a tríade de Dó maior). Se o acorde for Sol maior, então a nota da melodia a focar no momento do acorde deve ser Sol, Si, ou Ré. Vamos ver este exemplo de sequência de acordes.
Dó -> Sol/Si -> Lá menor -> Dó/Sol -> Fá -> Mi menor -> Ré menor ->Sol
(Sol/Si significa o acorde de Sol, com a nota Si sendo a mais grave em vez da nota Sol, acorde invertido). Se tivéssemos de escrever uma melodia com esta sequência de acordes, usando apenas o conselho anterior, teríamos algo assim por exemplo:
Aqui como podes ver, a primeira nota da melodia é um Mi que é tocada com o acorde de Dó porque a tríade de Dó tem as notas Dó, Mi e Sol. Podia ter um Dó ou um Sol e também soaria bem, mas desta vez utilizámos o Mi. No segundo compasso o acorde é Sol maior e escolhemos a nota Sol (da tríade Sol, Si, Ré). No terceiro compasso, o acorde é Lá menor, então selecionámos a nota Dó na melodia. Não importa qual a nota do acorde que escolhemos. Aqui está outro exemplo onde a melodia continua a seguir o conselho anterior, mas utilizando uma nota da melodia diferente para o acorde de Sol no segundo compasso.
De novo isto resulta muito bem.
2: Fazer Uso Das Outras Notas da Escala
Outra dica para criar boas melodias é utilizar outras notas da escala. Uma vez que encontrámos algumas notas do acorde para encaixar na melodia, é altura de pensarmos em adicionar algum movimento melódico à linha melódica. Mas como escolher as notas a adicionar? Bom, o mais básico a fazer é trabalhar na tonalidade que nossa música vai estar, e então assegurar que só utilizamos notas dessa tonalidade. Isto vai garantir que não apanhamos qualquer “som conflituoso” que é desagradável aos ouvintes. (Claro que por vezes utilizam-se notas fora da escala propositadamente, mas por agora vamos ignorar tais melodias).
No exemplo anterior, a música estava na escala de Dó maior. Conhecer a escala é uma parte fundamental na criação de uma melodia. Se não souberes em que escala a tua música está, então deves aprender primeiro escalas (podes ver aqui). Dó maior tem uma armadura de clave em que não existem sustenidos nem bemóis; no teclado do piano não utiliza as teclas pretas. Então quando compões na escala de Dó maior, deves focar-te nas “notas brancas” do piano para assegurares-te que consegues obter um som agradável. Então agora vamos usar notas da armadura de clave de Dó maior, subindo ou descendo na escala à medida que nos movemos da nota do acorde para a próxima.
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Claramente, ao adicionar notas da escala enquanto “viajamos” de uma nota do acorde até outra, adicionámos mais interesse à melodia. De novo, não importa quais as notas da escala tocámos, poderia ter descido na escala e continuaria agradável. Experimenta tu um pouco. O importante é utilizares notas da escala de Dó maior.
3: Saltar a Nota Desejada em um Tom
Em primeiro lugar assumimos que entendes o conceito de Tom e meio tom (vê aqui o tutorial Tons e Semitons). Então o que significa saltar por cima da nota desejada? Vamos ver o exemplo em áudio e usá-lo para uma melhor explicação. No ponto número 2, decidimos que a nota de destino no segundo compasso seria Sol. O que podemos fazer agora, é subir um pouco no primeiro compasso. À medida que tocamos as notas em direção a Sol… primeiro saltamos um Tom acima da nota Sol para tocar um Lá primeiro, antes de finalmente aterrarmos na nota de destino, a nota Sol no segundo compasso. As boas melodias geralmente têm esta característica.
Por outras palavras estamos a evitar o instinto natural de simplesmente viajar na escala a subir de Mi a Sol ao saltar-mos por cima da nota Sol um Tom. Lembra-te, se estiveres a tocar uma melodia onde as notas estão a descer na escala, saltamos para baixo da nota de destino antes de finalmente tocarmos a nota. Esta técnica envolve um pequeno planeamento, mas quando dominada é uma forma muito eficaz de adicionar algum interesse à linha melódica. O próximo passo utiliza de novo a técnica do salto entre as notas mas desta vez o salto é de seis notas da escala!
4: Saltar Seis Notas da Escala
Outra dica muito boa é saltar seis notas na escala, para cima ou para baixo. Este grande salto entre as notas pode ser extremamente eficaz quando utilizado no momento certo numa frase melódica. Se continuarmos com a melodia do exemplo anterior, um sítio onde podemos incluir um salto de seis notas é depois do Sol no segundo compasso. Saltamos do Sol para baixo até ao Si (de Sol, passamos por cima de Fá, Mi, Ré, Dó e aterramos no Si) antes de finalmente chegarmos ao terceiro compasso e tocar a nota Dó.
Podemos utilizar a mesma técnica para continuar a melodia com outro salto de seis notas, desta vez talvez a subir na escala, da nota Dó para a nota Lá (no início do compasso 5). Sabemos que isto continuará a soar bem porque a nota Lá que vamos aterrar faz parte da tríade de Fá maior – que é o acorde a ser tocado na altura em que aterramos na nota de destino Lá.
5: Repetir os Padrões
Então porque é que os compassos 5, 6, e 7 funcionam tão bem com o exemplo da melodia no ponto 4? Primeiro, porque utilizam os passos anteriores. Mas também, porque trabalham especificamente ao lado da frase nos primeiros três compassos, porque fazem uso do mesmo padrão de notas. Repetir o padrão das notas é um truque que muitos compositores clássicos usaram com grande efeito. Não tens necessariamente de repetir as mesmas notas, mas utilizar o mesmo padrão de notas da frase musical anterior, apenas mudando a localização ao longo da escala, para cima ou para baixo. Se comparares o compasso 1 e 2 na imagem usada no nosso exemplo, podes ver que as notas no compasso 5 e 6 seguem o mesmo padrão, apenas usam notas que estão seis notas acima na escala.
6: Compor, Parar, Repetir, Gravar
Como já disse escrever boas melodias não é algo que se faça simplesmente por tocar notas ao acaso. À medida que avanças na tua melodia, deverás estar preparado para parar e repetir quando algo mágico acontece. Isto quer dizer que quando estás a compor, a cantar, ou a tocar a tua nova melodia, através da progressão de acordes, por vezes de repente uma frase musical ou uma parte da melodia soa maravilhosamente… o que se faz normalmente é continuar com a composição e à medida que avanças sentes-te excitado para ver o que mais pode acontecer. Contudo, quando chegas ao fim ou ficas criativamente exausto, podes ter esquecido a combinação exata de acordes, as notas da melodia, o ritmo que tocaste naquele momento fantástico.
Por isso, independentemente da emoção do momento em que tocas, lembra-te de parar imediatamente no momento que ocorrem esses momentos, e assegura-te que repetes, gravas e escreves essas melodias. São estes pequenos momentos que fazem a tua melodia ser algo de muito especial, então é essencial capturar esses momentos.
7: Ritmo e Variação da Duração das Notas
Uma coisa que pode fazer de uma boa melodia, uma melodia melhor, é utilizar o ritmo e a duração das notas de forma inteligente. É muito tentador para os compositores apenas mudar de nota em nota em todas as batidas do compasso, ou ao mesmo tempo que o acorde muda. Isto pode ser bom para alguns tipos de música, mas a melodia precisa de ser forte e deve ter algo que chame a atenção na forma como os acordes mudam. Na maioria das vezes fará bem pegar nas notas da melodia e pensar bem como podemos adicionar-lhes um gosto especial, adicionando colcheias, semicolcheias, fazendo passagens rápidas e trazendo mais movimento à melodia.
No próximo exemplo a fórmula de compasso é 3/4. Uma dica eficaz para adicionar algo extra ao ritmo da melodia é tentar e permitir que algumas notas durem através dos compassos. O que isto significa? Que juntamos duas notas no fim dum compasso até ao início do outro como verás no exemplo.
Aqui entre o primeiro e segundo compassos, a nota Lá foi segurada por duas batidas, o que a faz percorrer de um compasso para o outro. Isto adiciona alguma variedade à peça e uma vez mais faz com que a melodia não seja tão previsível. Verás muitas vezes compositores a utilizarem esta técnica. Na música moderna, verás que esta técnica é muito utilizada no final dos refrões. Aplica estas dicas se desejas escrever boas melodias.
6 Comentários
Sou saxofonista e essas explicações foram as melhores que eu encontrei ,DEUS abençoe todos vocês que compartilham conhecimento! tem promessas nesse sentido ” Eu( DEUS) abençoarei aqueles que te abençoarem” . valeu !!!!!
Daniel comentários como esse já são uma bênção. Muito obrigado nós por podermos ajudar!
Obrigado pela a bela explicação. Mas poderia ter alguns vídeo para ajudar melhor a compreensão .
Boa ideia Diorgy. Vou preparar um vídeo deste artigo. Inscreva-se no canal youtube.com/Academiamusicalpt que brevemente terá o vídeo.
Parabéns Ricardo Frade. Estou a apreciar os seus diversos artigos. A mim interessa-me, especialmente, o que se refere a composição, harmonia, sequência de acordes etc. Vou tentar segui-lo mais.
Abraço
A Costa
Boa tarde, poderia dar dicas de melodias aplicáveis à música “Hotel Califórnia” da banda Eagles?
Obrigado
Alexandre