
Como lidar com a frustração
- Postado por Ricardo Frade
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Last Updated on 13 Fevereiro, 2015 by
Se estás a aprender um instrumento musical há algum tempo então já sabes que a mestria musical é mais um caminho que um destino. Assim como qualquer esforço significante, o processo envolve trabalhar em elementos de conhecimento individuais e juntar essas peças para formar o produto final ao longo do tempo. Com uma boa instrução, este é um processo com resultados previsíveis. Contudo, para otimizar estes resultados devemos ter em conta os elementos humanos que influenciam o progresso.
Sabemos que a psique humana nem sempre responde favoravelmente a atividades de estudo e repetição que não tenham uma satisfação imediata. Como músicos temos de reter uma quantidade de informação considerável e também dominar vários aspetos físicos no instrumento musical, como praticar acordes, escalas musicais, etc. Tanto os aspetos físicos como mentais envolvem muita repetição de forma a automatizar o que aprendemos. Este processo desencadeia uma resposta previsível na mente humana devido a não termos uma satisfação imediata: frustração.
A frustração é um sentimento de insatisfação em resposta a não termos aquilo que desejamos no momento presente. É um aspeto inevitável de qualquer esforço de longa data, então podes ter a certeza que não és o único nessa situação e a presença dessa frustração não significa que não tenhas “talento” para a música. Apesar de não ser um sentimento agradável, assim como todos os sentimentos este pode ser um apoio ou um impedimento dependendo da forma como lhe respondemos.
Primeiro consideremos o nível de frustração menos problemático. Imagina um padeiro que fica a olhar para a massa do pão a cozer no forno. Ao observar que o pão cresce bastante lentamente, o padeiro começa a perguntar-se se será ele um padeiro competente, visto ter feito tudo o que sabia e mesmo assim o pão não estar a crescer como ele projetara. O problema deste padeiro é que ele está a alimentar expectativas irreais sobre o tempo que leva a ter o pão preparado. A solução para este padeiro é simplesmente ter uma expectativa mais realista do tempo que leva o pão a cozer.
Então quanto tempo leva a aprender um instrumento musical ao ponto que conseguirmos expressar-nos livremente? Na verdade não há uma resposta simples como na analogia do padeiro. Isto irá variar de pessoa para pessoa devido a um número de fatores, mas o que deves entender é que irá acontecer num período de meses ou anos e não em semanas, portanto sê realista. Se estás frustrado em algum ponto do estudo que iniciaste há duas semanas, então não estás a ser realista em relação ao tempo que leva a aprendizagem e isso não te está a ajudar.
Agora vamos considerar alguns níveis mais profundos de frustração que aparecem depois de teres feito tudo bem por um bom tempo e mesmo assim não estás a conseguir alcançar os resultados desejados. Este tipo de frustração pode arruinar a vontade de tocar, e pode afastar-te um tempo do instrumento ou até a desistir! Então devemos ter estratégias para lidar com este tipo de frustração e prevenir que isso nos impeça de progredir e chegar onde queremos. Aqui vão as dicas.
Aceitação
Assim como todas as rosas têm espinhos, todo o esforço a longo prazo tem frustrações. A frustração através do processo é um aspeto inevitável da experiência humana. Não és só tu que a sentes. É perfeitamente normal e não significa que não tens “talento” para a música. Mesmo que tenhas a melhor rotina de treino de sempre, o melhor professor do mundo e pratiques seis horas por dia, ainda assim vais continuar a sentir algum tipo de frustração, como qualquer músico que tenha pisado esse caminho.
Objetivos a curto prazo
Uma forma que podemos utilizar para dissolver a frustração é permitir-mos a nós próprios uma vitória ocasional definindo objetivos pequenos a curto prazo. Se o teu único objetivo é “tocar guitarra” então estarás a colocar-te a jeito de ter uma enorme frustração porque nunca irás acabar de aprender guitarra. Os teus objetivos devem ser específicos, relevantes para os seus objetivos maiores, e apropriados ao teu nível técnico. Se és novo na guitarra por exemplo então objetivos apropriados seriam aprender os primeiros acordes abertos e conseguir alterar de acordes, e aprender alguns padrões rítmicos. Estes são objetivos que com uma boa prática são alcançados, em pouco tempo, questão de semanas ou poucos meses, dependendo do teu grau de entrega. Para um guitarrista intermediário o objetivo poderia ser por exemplo improvisar sobre as posições da escala pentatónica sem te perderes no braço da guitarra e sem sair do tempo. Escreve os teus objetivos para que possas ter um registo dos teus progressos.
Evita comparações
Enquanto que é útil analisar o que os outros estão a fazer bem para incorporares isso na tua forma de tocar, não será nada benéfico avaliares a tua competência como músico fazendo comparações entre o teu nível com o dos outros músicos. Tu não consegues saber quais as vantagens que os outros músicos possam ter em relação a ti, e mesmo que pudesses saber isso não iria ajudar-te de nenhuma forma. Comparares-te com profissionais é ainda pior, lembra-te que ao fazer isto estás a comparar-te a pessoas que praticaram várias horas por dia por vários anos, e as suas gravações têm vários takes e um produtor musical a ajudar no seu som global. A única comparação que podes fazer e que te traz benefícios é comparares-te a ti próprio há uma semana atrás, seis meses atrás, um ano atrás, e etc.
Segue as instruções
Muitas vezes a evolução custa a aparecer porque simplesmente os alunos não seguem as instruções dadas. Isto é mais visível nos detalhes técnicos. Não te permitas fazer os exercícios sem prestar atenção aos detalhes da tua técnica. Isto irá retirar os benefícios da repetição e irá reforçar hábitos contra-produtivos. A técnica é a barreira primária da expressão num instrumento musical.
Utiliza a frustração
Apesar da frustração ser um sentimento desconfortável, tem um lado positivo que pode providenciar pistas para o que precisamos de fazer para melhorar as nossas capacidades. Se estiveres a trabalhar num exercício ou música e continuas a falhar em determinada parte, esta é uma pista para que isoles essa parte e lhe dês uma atenção extra. Se te sentires frustrado porque paraste de fazer qualquer progresso isto pode ser uma pista de que não estás a praticar o suficiente, não segues a rotina, não tens objetivos definidos, tens algumas falhas técnicas, ou que precisas de alguns ajustes na tua rotina de treino. Quando chegas a uma barreira de frustração utiliza esta como indicador de que precisas analisar o que se passa e encontrar a origem da tua falta de progresso.
Evita o perfecionismo
Se és do tipo que quer tudo na perfeição, deves fazer os possíveis para abandonar essa forma de ver as coisas. Claro que todos olhamos para a perfeição como um ponto de referência, mas temos de equilibrar isso com o realismo. Até os profissionais com anos de experiência cometem erros. Faz tudo da melhor forma que conseguires, mas não sintas que deverias fazer tudo na perfeição, se falhares apenas regista e trabalha para melhorar esse erro.
Aplica objetivos padrão
O progresso nem sempre é visto como progresso. Se estiveres a praticar as coisas certas, da forma certa, então estás a fazer progresso mesmo que não o sintas. Se estiveres a medir o teu progresso apenas pela forma como te sentes em relação à tua performance então podes estar a ir ao encontro da frustração. Olha para trás e vê o como estavas a tocar hà seis meses, segue uma rotina de treino com objetivos bem definidos, e utiliza um metrónomo para medir o teu progresso técnico.
Pratica a paciencia
Aprender a expressar-se livremente num instrumento é um esforço complexo. Não esperes atingir os objetivos de longa data em pouco tempo. Parte o teu objetivo em objetivos mais pequenos e realísticos. Simplesmente lembra-te – Nunca desistas!
Tag:frustração, motivação
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Professor de guitarra e criador da Academiamusical.com.pt, Ricardo Frade é um apaixonado pela música e pretende incentivar o estudo da música em Portugal e Países Lusófonos.
O seu instrumento primário é a guitarra. O instrumento secundário é o piano. É aficionado por bandas sonoras instrumentais, área onde ambiciona atuar. Trabalha com ensino musical, produção musical e deseja conseguir contribuir para a dinamização do ensino da música em Portugal.
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